segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Jânio Quadros

Governo de Jânio Quadros


Jânio da Silva Quadros sucedeu ao Presidente Juscelino Kubitschek. Foi eleito em outubro de 1960 com uma expressiva vitória. Mas seu governo durou poucos meses, provocando uma crise política, que culminaria mais tarde no Golpe Militar.

Nesta eleição, em 1960, os principais nomes para a disputa foram: Marechal Teixeira Lott pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), tendo como vice João Goulart; Ademar de Barros, político forte em São Paulo e um candidato populista inovador, Jânio Quadros.

Jânio obteve o apoio da UDN (União Democrática Nacional) e alcançou êxito com um discurso de moralização. Ao final do governo de JK, o país enfrentava sérios problemas advindos da chamada política desenvolvimentista. A inflação atingia 25% ao ano e a dívida externa era exorbitante.

Com o slogan “varre, varre, vassourinha, varre varre a bandalheira”, Jânio empolgou a população, prometendo acabar com a corrupção, equilibrar as finanças públicas e diminuir a inflação. Para ganhar ainda mais simpatia dos eleitores, o candidato costumava andar com roupas amassadas e carregar sanduíche de mortadela nos bolsos.

Jânio Quadros venceu com mais de 6 milhões de votos. Entretanto, o vice-presidente eleito foi João Goulart. A Constituição de 1946 previa a votação para Presidente e vice, separadamente. Vale lembrar, que os dois candidatos representavam partidos e idéias diferentes.

Jânio foi o primeiro Presidente da República a tomar posse na nova capital do país, Brasília, e de lá governaria o país. Era a primeira vez, também, que um candidato apoiado pela UDN alcançava o cargo.

Seu governo foi muito contraditório. A começar pelos seus apoios políticos, que representavam a elite do país, ou seja, aquela classe social que sempre foi alvo das críticas de Jânio. Na política internacional, dizia combater o comunismo, mas chegou a condecorar um dos líderes da Revolução Socialista Cubana, Ernesto “Che” Guevara, com a Medalha Cruzeiro do Sul, em agosto de 1961.

Na área econômica, Jânio foi conservador, adotando à risca as medidas do FMI (Fundo Monetário Internacional). Congelou salários, restringiu créditos e desvalorizou a moeda nacional, o Cruzeiro, em 100%. Porém, nenhuma destas medidas foi suficiente para acabar com a inflação alta.

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Seu governo durou apenas 7 meses, provocando uma crise política, que posteriormente ocasionaria o Golpe Militar.

Jânio Quadros obteve o apoio da UDN durante a sua candidatura e venceu com grande número de votos contra seu adversário nas eleições presidenciais, o também candidato e ministro da Guerra, Henrique Lott. Utilizou um slogan durante a sua campanha, que empolgou a população: ”varre varre vassourinha,varre varre a bandalheira”, prometendo varrer a corrupção do país, equilibrar as finanças públicas e diminuir a inflação.

Seu governo foi muito contraditório. Teve como apoio político a elite do país, classe social ao qual Jânio Quadros tanto criticou. Na política internacional, dizia ser contra o comunismo, mas chegou a condecorar um dos líderes da Revolução Socialista Cubana, Ernesto “Che” Guevara, com a medalha Cruzeiro do Sul, em agosto de 1961.



Algumas frases antológicas foram atribuídas a ele. Como "Fi-lo porque qui-lo" e "Bebo porque é líquido, se fosse sólido, comê-lo-ia". Ele realmente disse estas frases? Poderia nos dizer mais algumas?
Nelson - Jânio Quadros jamais falou em " fi-lo porque qui-lo", mas "fi-lo porque quis". "Bebo porque é líquido, se fosse sólido comê-lo-ia", é verdadeira. "Falei em forças terríveis, porque ocultas não foram." Durante a campanha ao governo do Estado de São Paulo, Jânio vai para Ribeirão Preto para solidificar sua candidatura naquela região, considerada de vital importância. Ademar de Barros, também candidato, solicita a um repórter que vá lá com um único propósito: fazer uma só pergunta.
Jânio passeia pela cidade, discursa e atende aos populares. Depois é a vez da imprensa local. Atende-os em todas as perguntas. Em determinado momento, o repórter encomendado por Ademar parte para o ataque: "O senhor sabe que a família.

líder carismático das massas. Em menos de uma década, conseguiu eleger-se vereador, prefeito, governador e deputado federal pelo Estado de São Paulo. Em 1960, lançou sua candidatura à presidente prometendo superar as mazelas deixadas pelo governo JK.

Utilizando a vassoura como símbolo de sua campanha presidencial, insistia em moralizar o cenário político nacional e “varrer” a corrupção do país. Contando com essas premissas, Jânio conseguiu uma expressiva votação, indicando a consolidação do regime democrático no país. No entanto, as contradições e a falta de um claro posicionamento político fizeram com que o mandato de Jânio Quadros fosse tomado por situações nebulosas.

Para superar o problema da inflação e o visível déficit público, Jânio procurou reduzir a concessão de crédito e congelou o valor do salário mínimo. Além disso, aprovou uma reforma da política cambial que atendia as demandas dos credores internacionais. Tais medidas pareciam sinalizar um conservadorismo político que aproximou o governo de Jânio Quadros aos interesses do bloco capitalista. No entanto, sua política internacional provou o contrário.


sábado, 28 de agosto de 2010

HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Jânio Quadros em Santos (2) - 1959 e 1961

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Imediatamente após sua polêmica renúncia ao cargo de presidente da República, Jânio Quadros viajou para Santos, onde iniciaria longa viagem de navio. Mais tarde, seria eleito prefeito da capital paulista, e seria constantemente visto em Guarujá, onde possuía casa de praia.

Morreu em São Paulo. O jornal santista A Tribuna assim registrou o fato, na edição de 17 de fevereiro de 1992:


Jânio vai ser enterrado no Cemitério da Paz
Foto: arquivo, publicada com a matéria

Jânio Quadros morre em SP aos 75 anos

Às 22h31 de ontem, de insuficiência renal e respiratória, faleceu o ex-presidente Jânio da Silva Quadros, de 75 anos, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Jânio estava internado desde o dia 4 e, segundo o médico Norton Sayeg, houve ainda "falência de vários órgãos". O anúncio oficial da morte foi feito pelo neto Jânio John, de 18 anos. O corpo do ex-presidente foi transladado, na madrugada de hoje, para a Assembléia Legislativa. O governador Luiz Antônio Fleury Filho disse que Jânio será enterrado, às 16h30, no Cemitério da Paz, com honras de chefe de Estado. O presidente da Câmara de Santos, Gilberto Tayfour, anunciou a suspensão da sessão de hoje em homenagem póstuma ao ex-presidente.

Insuficiência respiratória e renal mata Jânio Quadros

O ex-presidente Jânio Quadros faleceu às 22h31 de ontem no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, depois de vários dias em estado crítico. O anúncio foi feito pelo neto Jânio John, em nota oficial.

A íntegra da nota é a seguinte: "16 de fevereiro de 1992. Cumpro o doloroso dever de comunicar que o presidente Jânio da Silva Quadros faleceu hoje (ontem) às 22h31. O corpo será transladado ainda hoje (ontem) para a Assembléia Legislativa, ao Monumental, de onde sairá o enterro amanhã (hoje) às 16h30 para o Cemitério da Paz. Atendendo a uma expressa solicitação do presidente Jânio da Silva Quadros e de seus familiares, pede-se que não sejam enviadas coroas nem flores. Aqueles que desejarem poderão enviar a importância correspondente à homenagem ao Amparo Maternal (Rua Botucatu, 1.000, Vila Mariana, São Paulo, Capital), em nome do presidente Jânio da Silva Quadros. A família do presidente Jânio da Silva Quadros deseja neste momento expressar sua mais profunda gratidão ao corpo médico do Hospital Israelita Albert Einstein, em particular ao doutor Elias Knobel. A gratidão também se estende ao doutor Norton Sayeg, médico particular do presidente Jânio da Silva Quadros. A família do presidente agradece comovida, por fim, as manifestações de simpatia recebidas pelos amigos e admiradores nestas últimas semanas."

Segundo o médico Norton Sayeg, a morte do ex-presidente foi causada por insuficiência renal e respiratória, quadro que determinou a falência de vários órgãos. "O presidente teve uma infecção pulmonar e foi auxiliado por vários aparelhos, mas a idade, o quadro clínico em deterioração e o comprometimento cerebral impediram uma recuperação".

O governador do Estado, Luiz Antônio Fleury Filho, foi o primeiro político a chegar ao Hospital Albert Einstein após o anúncio oficial da morte do ex-presidente. Fleury, emocionado, garantiu que Jânio Quadros será enterrado hoje com honras de chefe de Estado. O corpo de Jânio deixou o Hospital no início da madrugada de hoje para ser velado na Assembléia Legislativa.

O deputado federal Ulisses Guimarães (PMDB/SP) disse que ele e o ex-presidente sempre estiveram em campos opostos, embora fossem contemporâneos. "Nunca votei nele e tenho certeza que ele nunca votou em mim, mas isso não abalou nossa relação, que vinha desde os tempos acadêmicos. Jânio foi uma figura surpreendente na política brasileira e fugiu aos comportamentos convencionais, teve o apoio da sociedade e fez uma carreira napoleônica".

Péssimo político - O ex-ministro da Fazenda, Bresser Pereira, contrastando com Ulisses Guimarães, disse que Jânio foi um péssimo político no Brasil. "Como presidente, foi um desastre. Com a renúncia, se mostrou um homem desequilibrado. Como prefeito, realizou uma quantidade brutal de obras que o município não tinha condições de realizar. Nunca foi um político que tivesse uma contribuição positiva para o País".

Em Santos, no início da madrugada de hoje, o presidente da Câmara, Gilberto Tayfour, anunciou a suspensão da sessão em homenagem póstuma ao ex-presidente.






Jânio esteve em Santos em várias oportunidades, mas escolheu a casa da Praia de Pernambuco, em Guarujá, para seu auto-exílio. Lá recebia amigos e personalidades, como o atual governador do Rio, Leonel Brizola. A esposa Eloá foi sua companheira de todas as horas, inclusive nos palanques, onde o ex-presidente se transformava e impunha seu velho estilo de campanha para se comunicar com o povo
Fotos: João Vieira, publicadas com a matéria. Legenda original

O jornal A Tribuna prosseguiu com o noticiário:


Em 81, em Londres, preocupado com a tensão social
e defendendo o direito de voto dos analfabetos
Foto (repetida): arquivo, publicada com a matéria

"Minhas cinzas quero dispersas em C. Grande, SP e Curitiba"

No dia 17 de setembro de 1981, em Londres, o ex-presidente Jânio Quadros concedeu uma entrevista exclusiva ao então editor de Economia de A Tribuna, José Rodrigues, que cobria uma reunião da Organização Internacional do Café (OIC). Nesta entrevista, Jânio falou de sua vontade de ser cremado, da origem de sua fortuna, de seu temor pela política econômica brasileira e ainda de sua admiração por este jornal e pelo ex-diretor Nascimento Júnior.

A seguir, alguns trechos da entrevista:

- É voz corrente no Brasil que o senhor só possuía um terreninho em São Paulo. Mas o sr. viaja e apresenta uma situação estável. Como se explica essa sua posição?

- Bem, eu poderia remetê-lo ao Imposto de Renda. Lá está a minha declaração, que é pública. Quem deseje, pode até obter a fotocópia, tem a minha licença ampla. Mas quero contar uma coisa ao senhor. Eu ganhei uma pequena fortuna escrevendo. À roda de Cr$ 1 milhão, àquela época, na gramática. Ganhei outra pequena fortuna no dicionário. Quer a gramática, quer o dicionário, estão esgotados. Vou ganhar mais ao regressar, com uma nova edição. Está sendo preparada. Virei pintor e não pintava parede, não; pintava telas mesmo. E vendi todas as que pintei e vendi-as muito bem.

- E além disso?

- Além disso eu sou herdeiro de meu pai. Herdeiro único e agora herdeiro de minha sogra. Herdeiro único. Meu sogro foi, durante muitos anos, dono da farmácia Esfinge, e era uma das duas farmácias que não fechavam dia e noite.

- Em que lugar?

- No Anhangabaú. Ganhou uma fortuna dando injeções nos árabes e turcos do Anhangabaú, muitos dos quais são até meus amigos. E minha sogra morreu há algum tempo. É só ir ao inventário no Palácio da Justiça e verificará que sou um herdeiro substancial. Não dou os valores porque não sei como meu advogado procedeu e, de repente, cometo uma inconfidência.

- Já teve problemas financeiros?

- Esse problema nunca tive. Cumpre notar, ainda, o seguinte: como prefeito, jamais gastei o que recebia. Guardava. Muito parcimonioso. Como governador, jamais gastei o que recebia, durante quaro anos, e como presidente, também. É curioso, mas tome nota o senhor que é jornalista: prefeito de São Paulo, governador de São Paulo, presidente da República nunca têm oportunidade de colocar a mão no bolso. Alguém sempre corre à frente.

- E os vencimentos como ex-presidente da Repúbica?

- Eu recusei esses vencimentos que a Constituição destina para os ex-presidentes. Achei que não me deveria tornar pensionista do Governo, para ficar mais à vontade. (Esses vencimentos corresponderiam hoje, 1981, a cerca de Cr$ 450 mil mensais). No momento em que eu morrer, Eloá, minha mulher, se quiser receber, que o faça. Já me terei convertido em cinzas. Porque há um documento meu que fala na cremação. E só vou ser cremado depois de ter consultado d. Evaristo. Porque sou católico. Essas cinzas, desejo sejam dispersas sobre Campo Grande, São Paulo e Curitiba, e estou certo de que não vou poluir as três cidades, porque serão muito poucas.

- O sr. disse que teme pelo futuro devido à política econômica atual?

- A minha apreensão é uma só. A da tensão social. Veja como o padre Veekmans (era um consultor do presidente Eduardo Frei, do Chile) vê o Brasil. É um país que ainda não está integrado, tem 30 milhões de analfabetos, inteiramente marginalizados, tem um proletariado rural também marginalizado. Só agora o proletariado urbano está adquirindo consciência. Então, o primeiro dever de um político parece ser o de propiciar a integração do país. O de criar uma sociedade brasileira. Isso só será possível - e quando afirmo tal coisa meus amigos se horrorizam - inclusive com o voto do analfabeto. A integração no Brasil só será possível quando cada brasileiro se sentir brasileiro e puder participar da vida nacional.

- Que lembranças lhe trariam Santos neste momento?

- Agora eu gostaria de um preito de saudade. Eu me vinculei enormemente ao Nascimento Júnior. Nunca eu encontrei um jornalista assim, reto, sério, responsável, que fez de A Tribuna uma tribuna de São Paulo. Os seus editoriais eram lidos cuidadosamente por mim. Eu, governador do Estado, os lia...


HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Jânio Quadros em Santos (1) - 1959 e 1961

Iniciando a campanha eleitoral que o levaria à presidência da República pelo breve período de sete meses (de 31/1 a 25/8/1961), e após sete meses de viagem ao exterior, o ex-governador paulista e prefeito paulistano, Jânio da Silva Quadros, desembarcou em Santos em 1959 e percorreu as ruas da cidade.

Toda essa campanha foi feita ao som do jingle Varre, Varre, Vassourinha (ouça, em formato MP3) com farta distribuição ao público das já famosas vassourinhas-símbolo da campanha de Jânio contra a corrupção nacional, que ele pretendia varrer durante seu mandato.

Auto-intitulado o homem do "tostão contra o milhão" (desde os tempos da prefeitura paulistana, Jânio fazia seus discursos serem precedidos pelas "Caravanas da Liberdade" - desfiles barulhentos, com bandas de música e foguetório, organizados pelo Movimento Popular pró-Jânio Quadros (MPJQ). Nos palanques, ele se transfigura: penteado e bem vestido ao iniciar seus discursos, vai se desalinhando e se amarrotando a cada gesto, terminando por sair inteiramente amarfanhado nos ombros da multidão em delírio.

Na política, sua candidatura é uma coleção de siglas partidárias de apoio: UDN, PTN, PDC, PR, PL, dissidências do PSD, PTB, PRP, PSP e PSB. Venceu as eleições com 48% dos votos apurados, exatos 5.636.623 votos, batendo o candidato do PSD, general Henrique Teixeira Lott (32% dos votos) e Adhemar de Barros (20% dos votos apurados). O vice-presidente, eleito em votação separada com 4.547.010 votos, era João Goulart, companheiro de chapa do general Lott. O companheiro de Jânio, Milton Campos, perdeu por diferença bem pequena, pois somou 4.237.719 votos.





Reprodução da enciclopédia Nosso Século, volume 5 (1960/1980), Editora Abril Cultural, São Paulo/SP, 1980 (fotos atribuídas aos Diários Associados)

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Jânio da Silva Quadros[nota 1] (Campo Grande, 25 de janeiro de 1917São Paulo, 16 de fevereiro de 1992) foi um político e o vigésimo segundo presidente do Brasil, entre 31 de janeiro de 1961 e 25 de agosto de 1961 — data em que renunciou, alegando que "forças terríveis" o obrigavam a esse ato. Em 1985 elegeu-se prefeito de São Paulo pelo PTB. Foi o único sul-mato-grossense presidente do Brasil.

Formação acadêmica e magistério

Quando criança morou em Curitiba tendo feito os 4 primeiros anos do ensino fundamental no Grupo Escola Conselheiro Zacarias, hoje Colégio Estadual Conselheiro Zacarias, mais tarde , estudou no Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo para, depois, formar-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

Foi professor de Geografia no tradicional Colégio Dante Alighieri, considerado excelente professor. Tempos depois, lecionou Direito Processual Penal na Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Vida política

Início da carreira

Nascido no estado de Mato Grosso (na porção que hoje corresponde ao Mato Grosso do Sul), mas criado em Curitiba e na capital paulista.

Em 1947 foi eleito suplente de vereador na cidade de São Paulo pelo Partido Democrata Cristão (o mesmo partido do jovem André Franco Montoro, a quem enfrentaria em uma eleição estadual 35 anos depois). Com a cassação dos mandatos dos parlamentares do Partido Comunista Brasileiro (por determinação geral do então presidente Eurico Gaspar Dutra), pôde assumir uma cadeira na Câmara Municipal, desempenhando mandato entre 1948 e 1950. Na ocasião ficou conhecido como o maior autor de proposições, projetos de lei e discursos de todas as casas legislativas do país no período, assinando ainda a grande maioria das propostas e projetos considerados favoráveis à classe trabalhadora. Na sequência foi consagrado como o deputado estadual mais votado, com mandato entre 1951 e 1953.

Prefeito e governador

A seguir foi eleito prefeito da cidade de São Paulo, exercendo a função de 1953 a 1954, abandonando o cargo no ano seguinte à posse, com o objetivo de concorrer às eleições para governador. Seu vice, que assumiu no restante do mandato, foi José Porfírio da Paz, que também foi autor do hino do São Paulo Futebol Clube.

Ganhou o pleito sobre o favorito Ademar de Barros (um de seus maiores inimigos políticos) por uma pequena margem de votos, de cerca de 1%. Sua gestão foi entre 1955 e 1959. Durante o mandato procurou executar ações que passassem uma imagem de moralização da administração pública e de combate à corrupção (uma prática comum era a das visitas surpresa às repartições públicas, a fim de verificar a qualidade do serviço oferecido à população) aliadas a um empreendedorismo que buscava destaque e projeção, seja na criação de novos serviços e órgãos ou na construção de grandes obras, como pode se verificar, por exemplo, na criação do Complexo Penitenciário do Carandiru. Assim, angariou grande popularidade e se consagrou como um líder entre os paulistas.

A presidência da República seria o passo a seguir mas, no final de 1958, para não passar um "tempo ocioso" na política, se candidatou e se elegeu deputado federal pelo estado do Paraná, com o maior números de votos, mas não assumiu o mandato. Em lugar disso, preparou sua candidatura à presidência, com apoio da União Democrática Nacional (UDN). Utilizou como mote da campanha o "varre, varre vassourinha, varre a corrupção", cujo jingle tinha como versos iniciais:

varre, varre, varre, varre vassourinha / varre, varre a bandalheira / que o povo já tá cansado / de sofrer dessa maneira / Jânio Quadros é a esperança desse povo abandonado!, e também se dizia "homem do tostão contra o milhão".

Rápida ascensão política

Jânio chegou à presidência da República de forma muito veloz. Em São Paulo, exerceu sucessivamente os cargos de vereador, deputado, prefeito da capital e governador do estado. Tinha um estilo político exibicionista, dramático e demagógico. Conquistou grande parte do eleitorado prometendo combater a corrupção e usando uma expressão por ele cunhada: varrer toda a sujeira da administração pública. Por isso o seu símbolo de campanha era uma vassoura.

Presidente da República

Foi eleito presidente em 3 de outubro de 1960, pela coligação PTN-PDC-UDN-PR-PL, para o mandato de 1961 a 1966, com 5,6 milhões de votos - a maior votação até então obtida no Brasil - vencendo o marechal Henrique Lott de forma arrasadora, por mais de dois milhões de votos. Porém não conseguiu eleger o candidato a vice-presidente de sua chapa, Milton Campos (naquela época votava-se separadamente para presidente e vice). Quem se elegeu para vice-presidente foi João Goulart, do Partido Trabalhista Brasileiro. Os eleitos formaram a chapa conhecida como chapa Jan-Jan.

Jânio Quadros.

Qual a razão do sucesso de Jânio Quadros? Castilho Cabral, presidente do antigo Movimento Popular Jânio Quadros, sempre se perguntava por que esse moço desajeitado conseguiu realizar, em menos de quinze anos, uma carreira política inteira - de vereador a Presidente da República - que não tem paralelo na história do Brasil. Jânio não alcançou o poder na crista de uma revolução armada, como Getúlio Vargas. Não era rico, não fazia parte de algum clã, não tinha padrinhos, não era dono de jornal, não tinha dinheiro, não era ligado a grupo econômico, não servia aos Estados Unidos nem à Rússia, não era bonito, nem simpático. O que era, então, Jânio Quadros?

Hélio Silva, em seu livro A Renúncia,[1] tenta explicar:

Jânio trazia em si e em sua mensagem, algo que tinha que se realizar. E que excedia, até mesmo excedeu, sua capacidade de realizaçãoTodo um conjunto de valores e uma conjugação de interesses somavam-se em suas iniciativas e aliavam-se, nas resistências que encontrou. Analisada, a renúncia não tem explicação. Ou melhor, nenhuma das explicações que lhe foram dadas satisfaz.

Jânio representava a promessa de revolução pela qual o povo ansiava. Embora Jânio fosse considerado um conservador - era declaradamente anticomunista - seu programa de governo foi um programa revolucionário.

Propunha a modificação de fórmulas antiquadas, uma abertura a novos horizontes, que conduziria o Brasil a uma nova fase de progresso, sem inflação, em plena democracia.

Assumiu a presidência (pela primeira vez a posse se realizava em Brasília) no dia 31 de janeiro de 1961.

Embora tenha feito um governo curtíssimo - que só durou sete meses - pôde, nesse período, traçar novos rumos à política externa e e orientar, de maneira singular, os negócios internos. A posição ímpar de Cuba nas Américas após a vitória de Fidel Castro mereceu sua atenção. Comenta Hélio Silva em A Renúncia:[1]

Foi em seu Governo, breve mas meteórico, que se firmaram diretrizes tão avançadas que, muitos anos passados, voltamos a elas, sem possibilidade real de desconhecer as motivações que as inspiraram.

Para combater a burocracia, tomou emprestado a Winston Churchill - que usara o método durante a Guerra - o hábito de comunicar-se com ministros e assessores diretamente por meio de memorandos - apelidados pela imprensa oposicionista de os bilhetinhos de Jânio[2] - os quais funcionário ou ministro algum ousava ignorar. Adquirira esse hábito, que causou estranheza a alguns conservadores - e era até objeto de chacotas da oposição - no governo de São Paulo.

Um mestre inato da arte da comunicação, Jânio, no intuito de se manter diariamente na "ribalta", utilizava factoides como a proibição do biquíni nos concursos de miss, a proibição das rinhas de galo, a proibição de lança-perfume em bailes de carnaval, e a tentativa de regulamentar o carteado.

Jânio condecorou, no dia 19 de agosto de 1961, com a Grã Cruz da ordem Nacional do Cruzeiro do Sul[3][4] Ernesto Che Guevara, o guerrilheiro argentino que fora um dos líderes da revolução cubana - e era ministro daquele país - em agradecimento por Guevara ter atendido a seu apelo e libertado mais de vinte sacerdotes presos em Cuba, que estavam condenados ao fuzilamento, exilando-os na Espanha. Jânio fez esse pedido de clemência a Guevara por solicitação de dom Armando Lombardi, Núncio apostólico no Brasil, que o solicitou em nome do Vaticano. A outorga da condecoração foi aprovada no Conselho da Ordem por unanimidade, inclusive pelos três ministros militares.[5] As possíveis consequências desse ato foram mal calculadas por Jânio. Sua repercussão foi a pior possível e os problemas já começaram na véspera, com a insubordinação da oficialidade do Batalhão de Guarda que, amotinada, se recusava a acatar as ordens de formar as tropas defronte ao Palácio do Planalto, para a execução dos hinos nacionais dos dois países e a revista. Só a poucas horas da cerimônia, já na manhã do dia 19, conseguiram os oficiais superiores convencer os comandantes da guarda a se enquadrar.[3] A oposição aproveitou-se desse mero ato de cortesia, feita a um governante que havia prestado um favor ao Brasil, para transformá-lo em tempestade num copo d'água. Na imprensa e no Congresso começaram a surgir violentos protestos contra a condecoração de Guevara. Alguns militares ameaçaram devolver suas condecorações em sinal de protesto. Em represália ao que foi descrito como um apoio de Jânio ao regime ditatorial de Fidel, nesse mesmo dia, Carlos Lacerda entregou a chave do Estado da Guanabara ao líder anticastrista Manuel Verona, diretor da Frente Revolucionária Democrática Cubana, que se encontrava viajando pelo Brasil em busca de apoio à sua causa.

A Política Externa Independente (PEI),[6] criada por San Tiago Dantas (juntamente com Afonso Arinos e Araújo Castro) e adotada por Jânio, introduziu grandes mudanças na política internacional do Brasil. O país transformou as bases da sua ação diplomática e esta mudança representou um ponto de inflexão na história contemporânea da política internacional brasileira, que passou a procurar estabelecer relações comerciais e diplomáticas com todas as nações do mundo que manifestassem interesse num intercâmbio pacífico.

Inaugurada em seu governo, foi firmemente conduzida pelo chanceler Afonso Arinos de Melo Franco. A inovação não era bem vista pelos Estados Unidos da América nem por vários grupos econômicos que se beneficiavam da política anterior e nem pela direita nacional, em especial por alguns políticos da UDN, que apoiara Jânio Quadros na eleição.

Enquanto o chanceler Afonso Arinos discursava no Congresso Nacional e divulgava, pela imprensa, palavras que conseguiam tranquilizar alguns setores mais esclarecidos da opinião pública, a corrente que comandava a campanha de oposição à nova política externa, liderada por Carlos Lacerda, Roberto Marinho (Organizações Globo), Júlio de Mesquita Filho (O Estado de S. Paulo) e Dom Jaime de Barros Câmara (arcebispo do Rio de Janeiro), ganhava terreno entre a massa propriamente dita, a tal ponto que alguns de seus eleitores começaram a acusar Jânio de estar levando o Brasil para o comunismo.

Essa inovadora política externa de Jânio também provocou algumas resistências nos meios militares. O almirante Penna Botto, que havia protagonizado a deposição de Carlos Luz no episódio do Cruzador Tamandaré, chegou a lançar, em 1961, um livro intitulado A Desastrada Política Exterior do Presidente Jânio Quadros.[7]

Por outro lado as duras medidas internas, que visavam a combater a inflação - que foi crescente durante o governo JK - e já grassava solta após a inauguração de Brasília, bem como algumas medidas que visavam reorganizar a economia, desagradavam à esquerda. Jânio reprimia os movimentos esquerdistas, pelos quais não tinha simpatia alguma, e muitos deles eram liderados por João Goulart. Sua política de austeridade, baseada principalmente no congelamento de salários, restrição ao crédito e combate à especulação, desagradava inúmeros setores influentes.

Jânio nunca teve um bom esquema de sustentação no Congresso Nacional. Sua eleição se deu ao arrepio das forças políticas que compunham esse Congresso, que fora eleito em 1958, e já não mais correspondia às necessidades e às aspirações do eleitorado, que mudara de posição. Diz Hélio Silva, em A Renúncia:[1] O resultado do pleito em que Jânio recebeu quase 6 milhões de votos rompeu o controle das cúpulas partidárias.

O governo

No seu curto período de governo, Jânio Quadros:

  • Continuou a política internacional que teve seu início no governo de Vargas e uma aprofundação no governo JK. Aumentou a política externa independente (PEI), que visava estabelecer relações com todos os povos, particularmente os da área socialista e da África. Restabeleceu relações diplomáticas e comerciais com a URSS e a China. Algo impensável dentro do plano geopolítico e geoestratégico de inserção brasileiro. Nomeou o primeiro embaixador negro da história do Brasil.
  • Defendeu a política de autodeterminação dos povos, condenando as intervenções estrangeiras. Condenou o episódio da Baía do Porcos e a interferência norte-americana que provocou o isolamento de Cuba.
  • Deu a Che Guevara uma alta condecoração, a Ordem do Cruzeiro do Sul, o que irritou seus aliados, sobretudo os da UDN.
  • Criou as primeiras reservas indígenas, dentre elas o Parque Nacional do Xingu, e os primeiros parques ecológicos nacionais.
  • Através da Resolução nº 204 da Superintendência da Moeda e do Crédito, acabou com subsídios ao câmbio que beneficiavam determinados grupos econômicos importadores às custas do erário público - inclusive os grandes jornais, que importavam papel de imprensa a um dólar subsidiado em cerca de 75%, e que se irritaram com essa perda de seus privilégios.[8]
  • Instalou uma avara política de gastos públicos, enxugando onde fosse possível a máquina governamental. Abriu centenas e centenas de inquéritos e sindicâncias em um combate aberto à corrupção e ao desregramento na administração pública.
  • Enviou ao Congresso os projetos de lei antitruste, a lei de limitação e regulamentação da remessa de lucros e royalties, e a pioneira proposta de lei de reforma agrária. Naturalmente nenhum desses projetos jamais foi posto em votação pelo Congresso - hostil a seu governo - que os engavetou, uma vez que Jânio se recusava a contribuir com o que chamava de espórtulas constrangedoras que os congressistas estavam acostumados a exigir para aprovar Leis de interesse da nação.
  • Finalmente, proibiu o biquíni na transmissão televisada dos concursos de miss, proibiu as rinhas de galo, o lança-perfume em bailes de carnaval e regulamentou o jogo carteado. Por hilárias que possam ter parecido essas medidas na ocasião, mais de 45 anos depois, passados mais de dez presidentes pela cadeira que foi sua, todas essas leis editadas por Jânio ainda continuam em vigor.

A renúncia

Carta renúncia de Jânio Quadros.
"Ao Congresso Nacional. Nesta data, e por este instrumento, deixando com o Ministro da Justiça, as razões de meu ato, renuncio ao mandato de Presidente da República. Brasília, 25.8.61."

O dia 21 de agosto de 1961 Jânio Quadros assinou uma resolução que anulava as autorizações ilegais outorgadas a favor da empresa Hanna e restituía as jazidas de ferro de Minas Gerais à reserva nacional. Quatro dias depois, os ministros militares pressionaram a Quadros a renunciar: «Forças terríveis se levantaram contra mim...», dizia o texto da renuncia.

De acordo com Auro de Moura Andrade, as razões de seu ato, citado em sua carta renúncia, entregue ao ministro da Justiça Oscar Pedroso Horta, foram:

Fui vencido pela reação e, assim, deixo o Governo. Nestes sete meses, cumpri meu dever. Tenho-o cumprido, dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções nem rancores. Mas, baldaram-se os meus esforços para conduzir esta Nação pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, o único que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo.
Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou indivíduos, inclusive, do exterior. Forças terríveis levantam-se contra mim, e me intrigam ou infamam, até com a desculpa da colaboração. Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, e indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo, que não manteria a própria paz pública. Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes e para os operários, para a grande família do País, esta página de minha vida e da vida nacional. A mim, não falta a coragem da renúncia.
Saio com um agradecimento, e um apelo. O agradecimento, é aos companheiros que, comigo, lutaram e me sustentaram, dentro e fora do Governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade.
O apelo, é no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios para todos; de todos para cada um.
Somente, assim, seremos dignos deste País, e do Mundo.
Somente, assim, seremos dignos da nossa herança e da nossa predestinação cristã.
Retorno, agora, a meu trabalho de advogado e professor.
Trabalhemos todos. Há muitas formas de servir nossa pátria.
Brasília, 25-8-61.
a) J. Quadros[9]

Carlos Lacerda, governador do estado da Guanabara, - o derrubador de presidentes - percebendo que Jânio fugia ao controle das lideranças da UDN, mais uma vez se colocou como porta-voz da campanha contra um presidente legitimamente eleito pelo povo (como havia feito com relação a Getúlio Vargas e tentado, sem sucesso, com relação a Juscelino Kubitschek). Não tendo como acusar Jânio de corrupto, tática que usou contra seus dois antecessores, decidiu impingir-lhe a pecha de golpista.

Em um discurso no dia 24 de agosto de 1961, transmitido em cadeia nacional de rádio e televisão, Lacerda denunciou uma suposta trama palaciana de Jânio e acusou seu ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta, de tê-lo convidado a participar de um golpe de estado.

Na tarde de 25 de agosto, Jânio Quadros, para espanto de toda a nação, anunciou sua renúncia, que foi prontamente aceita pelo Congresso Nacional. Especula-se que talvez Jânio não esperasse que sua carta-renúncia fosse efetivamente entregue ao Congresso. Pelo menos não a carta original, assinada, com valor de documento.

O popular rádio jornal daquela época, o Repórter Esso, em edição extraordinária, no dia 25 de agosto, atribuiu a renúncia a "forças ocultas", frase que Jânio não usou, mas que entrou para a história do Brasil e que muito irritava Jânio, quando perguntado sobre ela.

Cláudio Lembo, que foi Secretário de Negócios Jurídicos da Prefeitura durante o segundo mandato de Jânio, recorda dois pedidos de renúncia que Jânio lhe entregou - e preferiu guardar no bolso. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo[10] disse Lembo:

Ele fazia isso em momentos de tensão ou muito cansaço, ou de "stress", como os jovens dizem hoje. Era aquele cansaço da luta política, de quem diz 'vou embora'. Mas não era para valer.[10]

Era voz corrente, na ocasião, que os congressistas não dariam posse ao vice-presidente, João Goulart, cuja fama de "esquerdista" agravou-se após Jânio tê-lo enviado habilmente em missão comercial e diplomática à China. Essa fama de "esquerdista" fora atribuída a Jango quando ele ainda exercia o cargo de ministro do Trabalho no governo democrático de Getúlio Vargas (1951-1954), durante o qual aumentou-se o salário mínimo a 100% e promoveu-se reforma agrária – atitudes essas consideradas suficientemente "comunistas" pelos setores conservadores na época.

Por outro lado especula-se que Jânio estaria certo de que surgiriam fortes manifestações populares contra sua renúncia, com o povo clamando nas ruas por sua volta ao poder - como ocorreu com Charles de Gaulle. Por isso Jânio permaneceu por horas aguardando dentro do avião que o levaria de Brasília a São Paulo.

Tudo indica, entretanto, que algum tipo de arranjo foi feito, nos bastidores da política, para impedir que a população soubesse em que local Jânio se encontrava nos momentos mais cruciais - imediatamente após a divulgação de sua carta de renúncia.

Jânio Quadros alegou a pressão de "forças terríveis" que o obrigavam a renunciar, forças que nunca chegou a identificar. Com sua renúncia abriu-se uma crise, pois os ministros militares vetavam o nome de Goulart. Assumiu provisoriamente Ranieri Mazzili, enquanto acontecia a Campanha da Legalidade; nesta campanha destacou-se Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul e cunhado de Jango. Com a adoção do regime parlamentarista, e consequente redução dos poderes presidenciais, finalmente os militares aceitaram que Goulart assumisse. O primeiro Primeiro-Ministro do Brasil foi Tancredo Neves. A experiência parlamentarista, contudo, foi revogada por um plebiscito em 6 de janeiro de 1963, depois de também terem sido primeiros-ministros Brochado da Rocha e Hermes Lima.

Cassação dos direitos políticos e regresso

No ano seguinte à renúncia Jânio foi candidato a governador de São Paulo sendo derrotado por seu velho desafeto Ademar de Barros. Com a eclosão do Regime Militar de 1964 foi um dos três ex-presidentes a ter seus direitos políticos cassados ao lado de João Goulart e Juscelino Kubitschek. Após fazer declarações à imprensa em Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, em julho de 1968, o ex-presidente foi detido pelo Exército Brasileiro, por ordem do então Ministro da Justiça, Luís Antônio da Gama e Silva, ficando confinado em Corumbá, cidade que fica no Pantanal sul-mato-grossense, na fronteira com a Bolívia. O ex-presidente ficou hospedado no Hotel Santa Mônica, que ainda funciona em Corumbá.[11]

Recuperou os direitos políticos em 1974, mas manteve-se afastado das urnas inclusive nas eleições legislativas de 1978, ano em que seus simpatizantes (agrupados sob o denominado "Movimento Popular Jânio Quadros") o levaram a visitar o bairro paulistano de Vila Maria, tradicional reduto "janista". Em novembro do ano seguinte manifestou a intenção de concorrer à sucessão de Paulo Maluf ao governo do estado de São Paulo filiando-se ao Partido Trabalhista Brasileiro (agora uma agremiação conservadora de direita, tendo pouca relação com a antiga legenda de Getúlio e Jango) tão logo foi efetivada a reforma partidária.

Ciclotímico, Jânio Quadros deixou o PTB sete meses depois de sua filiação e ingressou no PMDB, tendo sua "entrada" indeferida pela executiva nacional do partido voltando assim ao PTB, legenda pela qual foi candidato a governador de São Paulo em 1982 num pleito onde o vitorioso foi Franco Montoro, seu antigo correligionário no PDC. Jânio terminou a eleição na terceira posição, atrás ainda do malufista Reynaldo de Barros. Por ocasião do processo sucessório do presidente João Figueiredo, declarou apoio ao candidato da oposição, Tancredo de Almeida Neves. Em 1985, contando com o apoio dos setores e figuras mais conservadoras da sociedade paulistana, como a TFP, a Opus Dei, o ex-governador Paulo Maluf e o ex-ministro Antônio Delfim Netto, retornou aos cargos públicos elegendo-se prefeito de São Paulo também pelo PTB, derrotando o candidato situacionista, senador Fernando Henrique Cardoso (PMDB), e o representante das esquerdas, deputado federal Eduardo Suplicy (PT). A vitória de Jânio Quadros contrariou os prognósticos dos institutos de pesquisa e contradisse as avaliações segundo as quais o ex-presidente era tido como um nome "ultrapassado" no novo contexto da política brasileira emergente do processo de redemocratização e da campanha das Diretas Já. Fernando Henrique Cardoso, o então primeiro colocado nas pesquisas, chegou a tirar uma foto, publicada pela Revista Veja, sentado na cadeira de prefeito de São Paulo. Tal fato levou Jânio a tomar posse com um tubo de inseticida nas mãos, declarando: "Estou desinfetando a poltrona porque nádegas indevidas a usaram".[12]

Prefeito de São Paulo pela segunda vez

Seu mandato foi exercido até o primeiro dia de 1989, quando passou o cargo para Luiza Erundina. Em sua última empreitada político-administrativa repetiu seus lances populistas habituais: pendurou uma chuteira em seu gabinete (para ilustrar o suposto desinteresse em prosseguir na política), proibiu jogos de sunga e o uso de biquínis fio-dental no Parque do Ibirapuera (onde era localizada a então sede da prefeitura), com frequência mandava publicar no Diário Oficial do município os célebres bilhetinhos enviados aos seus assessores, obrigou a direção da Escola de Balé do Teatro Municipal a expulsar alguns alunos tidos como homossexuais, aplicou multas de trânsito pessoalmente, posou para a imprensa com a camisa do Corinthians e fechou os oito cinemas que iriam exibir o filme A Última Tentação de Cristo, de Martin Scorsese, por considerá-lo desrespeitoso à fé cristã. A obra só estrearia na cidade no início de 1989, após o final de seu mandato.

Ao mesmo tempo em que criava factoides midiáticos, investia na instalação de serviços de luz em cerca de 91% da área habitada da cidade, na pavimentação de aproximadamente 700 quilômetros de vias públicas, na abertura dos túneis da Avenida Juscelino Kubitschek, na inauguração do Corredor Santo Amaro e na reforma do Vale do Anhangabaú. Restaurou doze bibliotecas públicas, o Teatro Municipal e mais três teatros, além de ter inaugurado o Teatro Cacilda Becker. Seu programa também incluiu ações nos setores da limpeza pública, do saneamento básico (através da canalização de dois córregos), da habitação e da saúde (com a inauguração de dois hospitais e a recuperação de outros seis, fora cinquenta e oito unidades médicas). Concebeu pessoalmente o sistema viário de múltiplos túneis, conectores de diversas avenidas vitais de São Paulo, a cujas caríssimas, complexas e demoradas obras deu início ainda em seu mandato. Após terem sido interrompidas por Luiza Erundina, tais obras foram retomadas e concluídas na gestão de Paulo Maluf. O nome Túnel Presidente Jânio Quadros, por exemplo, foi dado em homenagem ao ex-presidente que havia feito a concorrência da obra. O atual prefeito Gilberto Kassab cogita em dar-lhes continuidade.[13] Na área do transporte público inseriu, em caráter experimental, ônibus de dois andares (a exemplo dos encontrados em Londres) no trânsito da cidade, mas tal experiência não obteve o resultado esperado e foi definitivamente descartada por Luiza Erundina.

Nas eleições para governador de 1986, anunciou apoio a Orestes Quércia, candidato do PMDB e vencedor da eleição. Entretanto, sofreu denúncias de que teria usado a máquina da prefeitura para auxiliar na campanha de Paulo Maluf (PDS).

Em sua relação com a Câmara Municipal, Jânio Quadros utilizou as Administrações Regionais como elementos de barganha para obter o apoio político dos vereadores através de um sistema que consistia no loteamento das mesmas entre os parlamentares. Cada político exercia poder sobre uma administração regional e, não por acaso, ao final de seu mandato o número de ARs e o de legisladores municipais era o mesmo: trinta e três.

Segundo alguns analistas políticos e representantes da sociedade civil, Jânio adotou posturas autoritárias em diversas situações. Seu governo foi marcado por insatisfações de vários setores do funcionalismo público, materializadas através de greves e protestos nas proximidades de seu gabinete, aos quais quase sempre respondia com demissões em massa. Jânio também demonstrou posturas inflexíveis ante a manifestações de movimentos sociais, como o MST. Criou a Guarda Civil Metropolitana para, segundo ele, reforçar o policiamento na cidade, mas seus adversários o criticaram duramente por, na visão deles, utilizá-la como mais um de seus instrumentos de repressão. Ao longo de seu mandato afastou-se diversas vezes do cargo para cuidar tanto de sua saúde, já abalada, quanto da de sua mulher, Dona Eloá Quadros (falecida em 1990). Ao fim da gestão encontrava-se desgastado perante a opinião pública: apenas 30% dos paulistanos aprovaram sua administração [carece de fontes?] , além do vexame de ter sido acusado, pelo à época vereador Walter Feldman (PMDB), de manter uma conta bancária na Suíça. Nas eleições de 1988, embora João Mellão Neto (PL) e Marco Antônio Mastrobuono (PTB), que foram integrantes de seu secretariado, concorressem à sucessão, apoiou o candidato João Oswaldo Leiva, do PMDB (lançado pelo então governador Orestes Quércia). Contudo, a vitória de Erundina (PT) em tal pleito configurou-se em uma dura derrota para Jânio Quadros, pois a mesma foi eleita amparada quase que exclusivamente por uma plataforma de esquerda antijanista. Faltando dez dias para o término de seu mandato viajou para Londres, não participando, portanto, da cerimônia de transmissão do cargo.

Após a prefeitura

Sua saúde frágil o impediu de concorrer à Presidência da República em 1989 (teria recebido inclusive um convite do PSD, que depois lançaria o nome de Ronaldo Caiado) e por conta desse fato hipotecou, no segundo turno do pleito, apoio ao ascendente Fernando Collor, cujo discurso e práticas políticas eram similares às suas. A morte de Eloá, em novembro de 1990, agravou seu estado de saúde. Passou os últimos meses de sua vida entre casas de repouso e quartos de hospitais. Faleceu em São Paulo no dia 16 de fevereiro de 1992, em estado vegetativo, vítima de três derrames cerebrais.

Seu apelido era "Vassourinha", graças ao lema de sua campanha que pretendia "varrer" do Brasil os males da corrupção - uma clara alusão aos enormes gastos do governo de Juscelino Kubitschek, que gerou déficits orçamentários devido ao seu ambicioso Plano de Metas.

Herdeiros políticos

Sua única filha Dirce Tutu Quadros foi eleita deputada federal em 1986 e em 1988 inscreveu seu nome entre os fundadores do PSDB tendo, nesse meio tempo, participado da Assembleia Nacional Constituinte que elaborou a Constituição vigente desde 1988. Uma polêmica jurídica acerca da perda de nacionalidade de Tutu, por conta de ter efetivada a naturalização para a cidadania norte-americana, fez com que ela logo em seguida se afastasse da política.

Obras publicadas

Jânio Quadros publicou as obras Curso prático da língua portuguesa e sua literatura (1966), História do povo brasileiro (1967, em coautoria com Afonso Arinos), Novo Dicionário Prático da Língua Portuguesa (1976) e Quinze contos (1983).

A carta-renúncia

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"Fui vencido pela reação e assim deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação, que pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo.
"Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.
"Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública.
"Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia.
"Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo é no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos e de todos para cada um.
"Somente assim seremos dignos deste país e do mundo. Somente assim seremos dignos de nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos todos. Há muitas formas de servir nossa pátria."
Brasília, 25 de agosto de 1961.


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Jânio Quadros

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